Por Saulo Alves de
Oliveira
Um antigo vizinho meu que tinha um retardo mental gostava
muito de usar a expressão “eu fico incrível” quando alguma coisa o incomodava,
algo que ele julgava fora do padrão da normalidade ou para o qual ele não encontrava justificativa convincente.
Muito próximo da minha casa há um terreno desocupado. Meu
vizinho sempre questionava porque ali não se construía alguma coisa. Lembro que
ele sempre citava uma farmácia ou um supermercado. Isso o incomodava, então ele
ficava “incrível” com tal situação.
Ainda hoje, transcorridos vários anos
depois que o meu vizinho se mudou, o terreno continua desocupado, servindo
apenas para juntar lixo, restos de construção, roedores e insetos. Agora quem
fica “incrível” sou eu.
Vou tomar emprestada a expressão do meu antigo vizinho.
Eu fico “incrível” como em questão ou matéria de fé as pessoas tentam
justificar o injustificável.
E o pior: não são pessoas loucas ou ignorantes, são pessoas
normais, sãs e inteligentes, algumas com elevada formação acadêmica, que
convivem conosco diariamente e estão convencidas de que estão certas.
As suas crenças as fazem aceitar com toda naturalidade
verdadeiras barbáries cometidas no passado e no presente e que também se darão no
além, não sei se distante ou perto, contra o ser humano.
E o que mais me incomoda: um dia eu também pensei
assim!
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