– Não me parece tarefa nada
fácil o próprio indivíduo descrever o seu caráter moral e a sua personalidade.
Se me fizessem tal sugestão, certamente eu não teria condições de fazê-lo de
forma imparcial. Julgo que é muito difícil falar acerca de si próprio sem ser indulgente
consigo mesmo. Quem sabe pouquíssimas pessoas no mundo tenham essa capacidade. “Sair”
do próprio corpo, ver-se à distância e analisar, com isenção, suas virtudes e
falhas deve ser um exercício extremamente complicado, e até interessante.
– Possível? É provável. Talvez para aqueles que atingiram um nível espiritual muito elevado. E com certeza
eu não estou nesse seleto grupo de seres que a Terra já produziu.
Entretanto, com base em avaliações de parentes, amigos e conhecidos parece que esse meu “amigo” é uma pessoa calma, ponderada, pacífica e às vezes até passivo demais. Não tenho certeza se isso é bom ou ruim em todos os momentos da vida. Parece que há situações em que a pessoa precisa gritar, perder um pouco o controle e se impor de forma mais contundente.
Já ouvi falar de alguém que era
“manso e humilde de coração” e certa vez saiu derrubando mesas e cadeiras de mercadores
e cambistas dentro de um templo. E essa pessoa tinha um açoite de cordas na
mão. Quer me parecer que um açoite de cordas não é propriamente um instrumento
para gentilezas, mas para atitudes ríspidas e de enfrentamento. Ou não?
E continuou o meu “amigo”:
– Todavia, independentemente de qualquer adjetivação que me seja atribuída, hoje eu quero me dar o direito de transgredir quaisquer virtudes que me caracterizam. Hoje eu quero me dar o direito de perder a paciência e desabafar, quem sabe até xingar.
– Se você acha que o Brasil,
por qualquer motivo, não deveria sediar a Copa do Mundo de Futebol, você tem todo
o meu respeito.
– Se você acha que há no País coisas muito mais importantes do que a Copa para preocupar os governantes, eu concordo com você.
– Se você acha que há no País coisas muito mais importantes do que a Copa para preocupar os governantes, eu concordo com você.
– Se você acha que os
governantes foram – e estão sento – incompetentes na preparação do Brasil para
a Copa, essa também é a minha percepção.
Nesse momento ponderei: – Caro “amigo”, só faço uma ressalva: por que as pessoas só culpam o
governo federal pela não conclusão das obras a tempo? Parece até que os governadores
e prefeitos das cidades sedes não se empenharam para trazer a Copa para as
capitais dos seus estados e não têm, provavelmente, a maior parte da culpa pelos
atrasos das obras! Por que não criticar também todos os governadores e todos os
prefeitos das cidades sedes?
Parece que meu “amigo” não deu
muita atenção à minha observação e continuou:
– Se você acha que houve corrupção nas obras da Copa ou nas obras de mobilidade urbana, eu não posso simplesmente dizer que concordo com sua observação, mas admito que é possível, dado o histórico de malversação dos recursos públicos em nosso país. Afinal de contas a inteligência pode não ser minha maior virtude, mas não sou tão estulto assim. Todavia, entendo que não se pode acusar ninguém sem provas.
– Se você acha que houve corrupção nas obras da Copa ou nas obras de mobilidade urbana, eu não posso simplesmente dizer que concordo com sua observação, mas admito que é possível, dado o histórico de malversação dos recursos públicos em nosso país. Afinal de contas a inteligência pode não ser minha maior virtude, mas não sou tão estulto assim. Todavia, entendo que não se pode acusar ninguém sem provas.
– Se você acha que o Brasil
deixou de investir em saúde e educação por conta da Copa, eu não concordo com
você, mas compreendo sua indignação.
– Se você acha que o Brasil
precisa investir mais em saúde, educação e segurança e gerir melhor esses
recursos, eu estou de pleno acordo com sua opinião.
– Se para você tanto faz o
Brasil perder ou ganhar a Copa, tudo bem, trata-se de uma questão pessoal e de
consciência de cada um, não me cabe fazer qualquer julgamento. Ninguém é pior
ou melhor por isso.
– Se um ou mais desses perfis
o caracterizam, você é uma pessoa do bem.
Sugiro, a essa altura, que não continue lendo este texto, pois meu “amigo” perdeu o controle a partir daqui.
Sugiro, a essa altura, que não continue lendo este texto, pois meu “amigo” perdeu o controle a partir daqui.
Mais uma vez o meu “amigo”:
– Todavia, qualquer brasileiro – inclusive você, Saulo, se for o seu caso – que porventura torce para que a Copa seja um fiasco, não passa de um canalha.
– Se você torce para que a Copa seja um caos, para prejudicar partido A ou B e beneficiar partido C ou D, você é um crápula da pior espécie.
– Todavia, qualquer brasileiro – inclusive você, Saulo, se for o seu caso – que porventura torce para que a Copa seja um fiasco, não passa de um canalha.
– Se você torce para que a Copa seja um caos, para prejudicar partido A ou B e beneficiar partido C ou D, você é um crápula da pior espécie.
– Se você torce para que
haja nestes dias uma convulsão social que imponha medo e pavor aos turistas
estrangeiros e nacionais, e manche a imagem do Brasil lá fora, você não passa
de um verme vil e abjeto.
– Se você torce para que haja uma catástrofe ou um grave acidente de repercussão internacional, você vale menos que a pasta informe que o gado libera nos campos ao esvaziar seus intestinos. Os excrementos do gado ao menos têm alguma serventia: adubam a terra e fazem as plantas crescerem. Quanto a você...
– Se você se enquadra em qualquer um desses perfis, você é uma pessoa do mal. Portanto, não tenho interesse algum em manter qualquer relacionamento de amizade com pessoas dessa espécie, seja você de perto ou de longe, tenha o mesmo sangue ou não, esteja sentado na cadeira principal ou no último banco.
– Se você torce para que haja uma catástrofe ou um grave acidente de repercussão internacional, você vale menos que a pasta informe que o gado libera nos campos ao esvaziar seus intestinos. Os excrementos do gado ao menos têm alguma serventia: adubam a terra e fazem as plantas crescerem. Quanto a você...
– Se você se enquadra em qualquer um desses perfis, você é uma pessoa do mal. Portanto, não tenho interesse algum em manter qualquer relacionamento de amizade com pessoas dessa espécie, seja você de perto ou de longe, tenha o mesmo sangue ou não, esteja sentado na cadeira principal ou no último banco.
E assim, abruptamente, meu “amigo”
terminou suas palavras.
Após refletir algum tempo, qual
foi minha reação?
Concordo com tudo o que você falou,
caro “amigo”.
Saulo Alves de Oliveira
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