Quando eu era criança meu pai contava, nos cultos
domésticos, várias histórias bíblicas. Eu gostava muito das histórias de Adão e
Eva, do pequeno Moisés, José do Egito, Davi e Golias e tantas outras.
Entretanto, dentre todas as histórias bíblicas uma das mais
interessantes era a de Noé. Normalmente a história de Noé é contada para as
crianças de forma suavizada, sem a carga emocional e sem ênfase na crueldade
que ela encerra.
A visão que se transmite é aquela de uma enorme fila de
animais caminhando obedientemente lado a lado para dentro de um enorme navio,
pois Deus, misericordiosamente, não
quis destruir por completo toda a vida na Terra. Hoje, evidentemente, não sou
mais criança e vejo a história do velho patriarca com outros olhos.
Como consequência do pecado da humanidade, Deus resolveu
destruir com um grande dilúvio quase todos os homens e animais terrestres e
aves que habitavam a Terra. Deus decidiu preservar apenas o “justo” Noé, sua
família e casais de exemplares de todos aqueles animais. Para salvar os
escolhidos, Deus mandou Noé construir, previamente ao grande dilúvio, uma
enorme arca.
Depois de muitos anos o navio foi finalmente concluído.
Então, Noé, sua família e os animais escolhidos entraram no grande barco. Deus fechou
a porta por fora e em seguida mandou muita chuva, mas muita chuva mesmo, de
forma tal que toda a terra submergiu sob as águas e todos os que ficaram do
lado de fora morreram afogados, inclusive todas as crianças e animais –
inocentes, ressalte-se.
Acho razoável admitir que todos os peixes e os outros animais marinhos
não foram eliminados. Sem dúvida foram privilegiados (Por quê?).
O interessante é que tudo isso foi informado previamente a
Noé e ele não esboçou a menor intenção de questionar essa decisão de Deus, tal
qual fez Abraão no episódio da destruição de Sodoma e Gomorra.
Noé, entretanto, poderia ter feito as seguintes perguntas a
Deus:
“Senhor, por que Tu não ages de forma seletiva e preservas
todos os inocentes?”
“Por que não salvas todas as crianças e eventualmente alguns
justos que existam sobre a terra?”
“Dos pecados dos homens, que culpa têm os animais?”
“Por que não preservas todos os animais? Há algum sentido em
matá-los?”
“Deve o inocente sofrer as consequências do pecado dos
maus?”
“Por que não fazes justiça para com todos os inocentes?”
Se eu fosse Noé teria feito tais perguntas a Deus.
E você, teria feito o mesmo? Ou não?
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