terça-feira, 21 de agosto de 2012

Aos olhos do Pai


Aos olhos do Pai
Você é uma obra-prima
Que Ele planejou
Com suas próprias mãos pintou
A cor de sua pele
Os seus cabelos desenhou
Cada detalhe
Num toque de amor


Você é linda demais
Perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais
Princesa linda demais
Perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais


Nunca deixe alguém dizer
Que não é querida
Antes de você nascer
Deus sonhou com você!


Você é linda demais
Perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais
Princesa linda demais
Perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais


Princesa...
Aos olhos do Pai





Recentemente, certa pessoa postou no Facebook um vídeo com um hino evangélico cuja letra está em destaque acima. Se você quiser ouvi-lo, basta clicar no link abaixo.

Eu tenho uma netinha que fez cinco anos mês passado. No seu caso, a letra da música se aplica perfeitamente. Porém, não é assim com todas as crianças do mundo.

A alguns meses atrás, minha neta chegou da escola cantarolando a música, com seu jeitinho inocente e gracioso. Confesso que achei engraçado quando a vi, sem muita habilidade para o mister, devido sua pouca idade, tentando cantá-la. Entretanto, ao ouvir a canção no Facebook, fiquei atento a sua mensagem e não posso deixar de fazer alguns questionamentos.

Obviamente, também não posso deixar que minha convicção se transforme na ingenuidade de admitir que todas as pessoas concordarão com as reflexões a seguir.

Como cantar essa música para uma criança que veio ao mundo com um grave defeito físico ou mental? E são muitas e chocantes as deformidades que existem. Não vou citá-las porque a lista é muito grande.

Como cantar essa música para uma criança esquelética, um verdadeiro cadáver ambulante, da África subsaariana ou de outras regiões pobres do mundo, ou mesmo do nosso país?

Pergunta que deveria sensibilizar todos os que crêem em Deus: pode-se dizer que tais crianças são uma “obra-prima” aos olhos do Pai e que Ele “planejou”, com suas “próprias mãos”, “cada detalhe” num toque de amor?

Que amor é esse?

Acho que o(a) autor(a) não teve essa percepção quando fez a letra. Teorizo: talvez o que lhe moveu foi a visão de pequeninos saudáveis, perfeitos e bem alimentados. Seria bom que alguém lhe sugerisse compor uma nova canção para os milhões de crianças com defeitos físicos ou mentais em todo o mundo.

Para mim tal música é uma enorme bofetada nos rostinhos dessas crianças que vieram e que vêm ao mundo todos os dias com graves defeitos físicos ou mentais incuráveis, ou que, com a aparência de cadáveres recém-saídos dos túmulos, morrem de fome pelo mundo afora.

Em homenagem a todas as crianças que sofrem, jamais incentivarei minha neta a cantá-la.

Saulo Alves de Oliveira

domingo, 12 de agosto de 2012

Se eu fosse Deus

Eu não teria criado o mal.

Não teria criado Adão e Eva sabendo que eles desobedeceriam as minhas ordens e que, como conseqüência disso, eu teria de lançar, num futuro distante, bilhões de seus descendentes no inferno por toda a eternidade.

Não teria rejeitado a oferta de Caim, evitando assim o primeiro homicídio.

Não teria mandado o dilúvio para destruir todos os seres vivos que habitavam sobre as áreas secas, preservando apenas Noé, sua família e alguns poucos animais. Eu teria sido seletivo, poupando todos os animais e todos os seres inocentes.

Não teria permitido que Jacó, de uma forma tão vil, enganasse seu pai, para cumprir o meu propósito.

Não teria endurecido o coração do Faraó e assim teria evitado todas as pragas do Egito, especialmente a morte dos primogênitos inocentes.

Não teria instituído o sacrifício de animais.

Não teria proibido que os filhos bastardos entrassem na assembléia do Senhor, como também, inexplicavelmente, seus descendentes, até a décima geração.

Não teria permitido que Israel sob o comando de Moisés cometesse atrocidades contra os midianitas e outros povos.

Não teria aceitado o voto precipitado de Jefté.

Não teria matado o filho de Davi e Bate-seba como punição pelo pecado do seu pai.

Não teria permitido que Davi cometesse a crueldade de cortar os tendões e nervos das pernas dos cavalos dos seus inimigos, tornando-os, portanto, incapazes de andar.

Não teria permitido que duas ursas despedaçassem 42 meninos apenas porque eles zombaram do profeta Eliseu dizendo: “Sobe calvo; sobe calvo”.  

Não teria deixado que Jesus enviasse os espíritos maus para uma manada de porcos fazendo-os cair pelo despenhadeiro no mar, morrendo todos nas suas águas.

Não teria “escrito” a Bíblia deixando margem para interpretações tão divergentes.

Não teria permitido que homens definissem quais livros deveriam fazer parte da Bíblia. Eu mesmo, pessoalmente, teria feito a escolha.

Não teria permitido a Inquisição.

Não teriam existido Nero, Calígula, Stalin, Hitler, Mao Tsé-Tung, Pol Pot e muitos outros tiranos e ditadores.  

Não teria permitido o Holocausto.

Não teria permitido que os palestinos fossem expulsos das suas terras. Hoje, palestinos e israelenses seriam vizinhos vivendo pacificamente.

Não teria permitido o “11 de Setembro”.

Não existiriam reis e imperadores.

Não existiriam ricos e pobres.

Não permitiria que crianças morressem de fome na África e em outras regiões pobres do mundo.

Não permitiria que inocentes pagassem por crimes que não cometeram.

Não teria permitido a crueldade da natureza selvagem.

Não permitiria que céticos e ateus questionassem a minha existência, apresentando-lhes provas irrefutáveis e inquestionáveis de quem Eu Sou.

Ah... se eu fosse Deus... tantas outras coisas eu teria evitado!

Mas, eu não sou Deus. Sou apenas uma criatura.

Uma voz diz no meu ouvido: como ousa questionar o Criador?

Respondo: eu não estou questionando o Criador, apenas eu não entendo seus desígnios.

A voz novamente me segreda baixinho: quem é você para questionar-lhe os seus desígnios?

Respondo mais uma vez: sou apenas um ser humano... que pensa.

E essas são reflexões do meu ser interior, as quais eu não posso evitar.

Portanto, se eu escondê-las, apenas os outros seres humanos não terão conhecimento.

Saulo Alves de Oliveira

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Mais uma divagação

Uma pessoa se apresenta como portadora da mensagem de Deus para o ser humano e faz a seguinte afirmação: “Esta é a mensagem que o Espírito Santo manda entregar...”

Outra pessoa procede da mesma forma e também faz a mesma afirmação.

Uma terceira pessoa, idem.

Todas se autodefinem como porta-vozes de Deus e têm plena convicção de sua missão.

Até aí, tudo bem.

O grande problema é que muitas vezes as mensagens são totalmente diferentes e não raro conflitantes.

Se é o mesmo Espírito que as inspira, como se explica tal contradição?

Salvo uma explicação que está acima da minha compreensão, parece-me que algo está claramente errado.

Eu não sei se a maioria das pessoas tem essa percepção ou eu sou um caso isolado.

Devo creditar isso a minha incapacidade de separar o joio do trigo?

Ou isso é irrelevante para a fé?

Saulo Alves de Oliveira

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O bóson de Higgs... e outras considerações

Modelo gráfico do CERN representa a colisão de partículas que pode ter revelado a existência do bóson de Higgs (AFP/CERN)

O bóson de Higgs é uma partícula subatômica prevista pelo físico britânico Peter Higgs em 1964. Desde então os cientistas vêm tentando provar sua existência. Em julho passado os meios de comunicação noticiaram que os físicos do CERN – Centro Europeu de Pesquisa Nuclear – detectaram uma partícula que pode finalmente ser o bóson de Higgs. Na realidade os cientistas ainda não têm 100% de certeza de que a partícula detectada é mesmo a partícula procurada há quase cinco décadas. Pode ser apenas uma partícula muito parecida com o bóson de Higgs. A confirmação definitiva ainda depende da obtenção de mais dados e da sua análise. Esses dados estão sendo obtidos no Grande Colisor de Hádrons (do inglês Large Hadron Collider, LHC), que é o maior acelerador de partículas do mundo, com 27 quilômetros de circunferência, construído na fronteira da França com a Suíça.

O bóson de Higgs ficou conhecido como “a partícula de Deus”. Esta denominação, todavia, é apenas um apelido, não tem nada a ver com algo divino ou sobrenatural. Ela teve origem num livro escrito pelo físico Leon Lederman cujo título proposto pelo autor deveria ser “A partícula amaldiçoada”, justamente pelas dificuldades encontradas durante as pesquisas para detectar tal partícula. Os editores do livro, no entanto, decidiram adotar o título “A partícula de Deus”, pois o julgaram comercialmente melhor. A partir daí o apelido colou. Portanto, “o bóson de Higgs” está para “a partícula de Deus” assim como “Edson Arantes do Nascimento” está para “Pelé”.

Na esteira das notícias acerca da descoberta, um site cristão divulgou alguns comentários de cientistas evangélicos. Tendo como base tais comentários, um pastor muito conhecido em nossa região fez algumas considerações sobre o tema e também fez  críticas rápidas a outros temas científicos.

O que mais me chamou a atenção nas suas considerações foram as suas primeiras palavras: “A tal partícula de Higgs apenas mostra mais uma partícula da matéria criada. E só. Não diz nada sobre a origem do universo.” Eu não esperava que um homem com a sua capacidade intelectual fizesse tal afirmação. E isso me incomodou.

Trata-se de uma pessoa com profundo conhecimento da Bíblia e também dos assuntos seculares, e por quem eu tenho muito respeito e consideração. Mesmo assim, eu resolvi fazer uma réplica ao seu comentário. Minha réplica foi publicada tanto no site cristão já referido bem como no Facebook, e agora no meu blog.

Não divulgo o nome do pastor nem o conteúdo do seu comentário porque a minha intenção é apenas expressar a minha opinião, e não simplesmente aparecer polemizando com alguém que é referência para milhares de pessoas.        

Sei que, para melhor compreensão dos leitores, o ideal seria divulgar também o comentário do pastor, mas não o faço pelo motivo já citado. Acredito que ainda assim é válido publicar esta réplica no meu blog. Ei-la, portanto, abaixo.   

Caro Pastor,

Desculpe-me, mas permita-me discordar de sua opinião. O bóson de Higgs não “é só mais uma partícula da matéria criada”. Sua descoberta é resultado de quase cinco décadas de pesquisas e é a última partícula que falta(va) para confirmar um modelo científico. Sua descoberta é considerada muito importante pelos cientistas, pois poderá explicar a origem da matéria. Sem o bóson de Higgs não existiriam galáxias, estrelas, planetas e também seres vivos, pois estes são formados por elementos químicos que são produzidos nas estrelas. Há evidências científicas que fazem com que a grande maioria da comunidade científica aceite a Teoria do Big Bang como a melhor explicação para a origem do Universo, e o bóson de Higgs, se tiver realmente sua existência confirmada, poderá ajudar a ciência a chegar mais perto daquele momento. Os experimentos no LHC, como a descoberta do bóson de Higgs, ajudam a responder questões sobre a criação do universo, a natureza da matéria e outros fenômenos. Certamente você já leu acerca desse tema, mas eu sugiro dar uma olhadinha no link abaixo, que mostra como a chamada “partícula de Deus” funciona. É um vídeo bem curto.
http://veja.abril.com.br/multimidia/video/como-funciona-o-boson-de-higgs 

Você afirma que a ciência “não precisa gastar bilhões de dólares para procurar a ‘partícula de Deus’”. Mais uma vez permita-me discordar de sua opinião. Entendo que precisa sim, pelas razões já citadas acima, e também porque é assim que a ciência trabalha, criando hipóteses e testando-as, ou teorizando sobre fenômenos e depois procurando provas da sua realidade. Se não forem encontradas evidências, as hipóteses ou as teorias são abandonadas. Um grande exemplo disso é a Teoria da Relatividade de Einstein, que foi formulado no início do século passado e ao longo do tempo vem sendo comprovada com experiências e observações.

Você inclusive cita exemplos que corroboram o meu pensamento. Se a ciência não despendesse esforços e dinheiro, nós não teríamos a “biologia molecular” nem o conhecimento das células, não saberíamos nada sobre o macrocosmo (considere a pressão que a Igreja fez contra Galileu) e o microcosmo.

Se não fossem grandes homens que ousaram desafiar o “status quo” do seu tempo –  inclusive o religioso –, como Giordano Bruno, que morreu queimado pela Inquisição em 1600, Galileu e muitos outros, talvez ainda hoje nós vivêssemos na escuridão da ignorância que “mantinha” a Terra no centro de um Universo imutável composto apenas por um punhado de planetas e uns poucos milhares de estrelas fixas.

Muitos outros fenômenos que no passado eram considerados “mistérios de Deus”, hoje são bem explicados. Num passado remoto, achava-se que o Sol era um deus. Hoje, sabe-se como ele foi formado, de que ele é feito e tem-se uma boa noção de qual será o seu futuro. No século 16, o fenômeno que fazia os corpos celestes girarem ao redor de outros corpos, que é o mesmo fenômeno que nos prende à Terra, era considerado um  “mistério de Deus” e não cabia, portanto, ao homem tentar entendê-lo. Hoje, graças a homens como Galileu e Newton, sabe-se exatamente o que é e como funciona esse fenômeno: a força da gravidade. Sabe-se, inclusive, com base na Teoria da Relatividade de Einstein, que não é exatamente uma força, mas uma deformação do espaço provocada pela massa dos corpos, que faz com que os corpos de menor massa “caiam” em direção aos corpos de maior massa.

A ciência tem uma boa explicação para a evolução da vida na Terra, mas ainda não sabe exatamente como ela surgiu. A ciência tem uma boa explicação para a evolução do Universo, mas ainda não sabe exatamente como foi o seu momento imediatamente após o tempo zero. 
  
Não sei se a ciência desvendará totalmente esses “mistérios”, mas eu desejo e espero que isso aconteça. E ficaria extremamente feliz se acontecesse nos anos da minha vida.
  
Não se sabe ainda o que houve “antes” do Big Bang, mas neste momento há cientistas empenhados em descobri-lo. Quem se interessar pelo assunto poderá dar uma lida no último capítulo do livro “Física do impossível”, do físico Michio Kaku. Isso é o belo e encantador na ciência: não temer os desafios da Natureza e seus mistérios, empenhar-se em avançar sempre em busca de novos conhecimentos e, nessa caminhada, corrigir os seus próprios erros.  

Você toca “en  passant” em vários temas, de forma explícita ou implícita: criacionismo, evolucionismo, origem do Universo, origem da vida, complexidade irredutível (que está relacionada ao Design Inteligente)... Também sugere a leitura do livro de Michael Behe*. 

Eu também gostaria de sugerir a leitura do livro “A linguagem de Deus”, de Francis Collins. Ele é um dos mais respeitados cientistas americanos, biólogo, diretor do Projeto Genoma, cristão e teísta. Não se trata, pois, de um cientista ateu, muito embora eu não tenho nenhum preconceito contra os cientistas ateus. Acho que todos devem ter plena liberdade de defender suas ideias, mesmo as que questionam a existência de Deus e temas relacionados à Bíblia. E muitos desses questionamentos se justificam.

O Dr. Francis Collins responde a várias questões relacionadas à origem do Universo, origem da vida, criacionismo, evolucionismo e Design Inteligente. Inclusive, para finalizar, eu gostaria de fazer uma citação do livro “A linguagem de Deus” exatamente acerca desse último tópico:  

“As lacunas percebidas na evolução, e que o ID pretende preencher com Deus, estão sendo preenchidas pelos avanços na ciência. Ao forçar esse ponto de vista limitado e restrito da função de Deus, o Design Inteligente coloca-se, ironicamente, numa trilha que trará danos consideráveis à fé. A sinceridade dos defensores do Design Inteligente não pode ser questionada. A maneira como os que creem em Deus, em particular os evangélicos, acolhem o ID é totalmente compreensível, levando-se em conta o fato de que a teoria de Darwin foi retratada por alguns evolucionistas convictos como obrigatoriamente ateísta. Entretanto, esse navio não se dirige à terra prometida; dirige-se, em vez disso, ao fundo do oceano. Se os que creem em Deus juntarem os últimos vestígios de esperança de que Ele possa encontrar um local na existência humana por meio da teoria do ID e essa teoria for derrubada, o que acontecerá, então, com a fé?”

Saulo Alves de Oliveira

* A caixa preta de Darwin