domingo, 8 de abril de 2012

É simples assim? Para os honestos, sim

Há dias venho acompanhando a briga entre duas “estrelas” do mundo neopentecostal. Creiam-me, colocados os dois numa balança de dois pratos – um em cada lado, evidentemente –, do tipo que ainda hoje se usa nas feiras livres, eu não me arriscaria a dizer previamente para qual dos lados a balança penderia. Para este beócio opinante, os dois se equivalem. Como diz o velho ditado: é o roto falando do mal-lavado.

Recentemente a TV de um desses dois senhores apresentou uma longa reportagem fazendo graves acusações contra o outro. A reportagem dizia que o acusado adquiriu, com recursos da Igreja – ou melhor, com o dinheiro dos fiéis, muitos deles pobres de Jó –, uma propriedade com milhares de hectares e um grande rebanho bovino. 

Qualquer que seja o comprador – caso a história se confirme –, o fato em si é uma enorme imoralidade.

Ainda que o bem tenha sido adquirido com recursos da Igreja para a própria Igreja, isso só se justificaria se o objetivo fosse a caridade, ou seja, distribuir carne e outros alimentos para os pobres ou mesmo doar terras para trabalhadores rurais desempregados, ou algo nesse sentido. Não sem antes o conhecimento e aprovação dos fiéis. Entretanto, se a finalidade é o simples investimento, alguma coisa está vergonhosamente errada nessa história. Eu sempre soube que a missão da Igreja é pregar o Evangelho e não investir em bens materiais. Bom, pelo menos era essa sua finalidade nos tempos idos, mas como as coisas mudam... alguns estão fazendo da igreja um trampolim para saltar e descansar nos braços de Mamon.

Por outro lado, se os bens foram comprados com recursos da Igreja para o seu líder, isso é apropriar-se indevidamente do dinheiro da instituição. Dinheiro este solicitado com tanta insistência e de modo tão lastimoso para outras finalidades e doado com tanto sacrifício pelos fieis. (Ressalte-se: valendo-se muitas vezes de métodos no mínimo questionáveis.) A se confirmar esta hipótese, eu acho que alguém deveria fazer alguma coisa. Quem sabe o ministério público devesse intervir para barrar essas vergonhosas ações, não só deste senhor, mas também daquele e de muitos outros que agem suposta, falsa e impunimente em nome de Deus, que, cheguei à conclusão, não interfere neste e em muitos outros casos de mercenarismo. Talvez haja uma explicação racional para isto! Ou, então, pergunte-se: seria o deísmo uma realidade? Bom... não sei... estou apenas conjecturando.     

(Até quando isso vai perdurar? Até quando muitos brasileiros continuarão com a venda que lhes cobre os olhos? Até que ponto chegará esse estado de coisas sem que alguém tome nenhuma providência? Qual será o destino do protestantismo no Brasil?)

Se os bens foram comprados com recursos do próprio líder da Igreja, a situação é mais amena, porém ainda assim tem um aspecto seríssimo a ser considerado. O que faz um homem de origem modesta, que ganha a vida como pastor, acumular uma fortuna suficiente para investir em um bem tão caro? Até onde me é dado saber, pastor ganha salário e ninguém que vive unicamente de salário consegue ficar milionário. Ou não? Será que isto é apenas delírio de uma mente dessintonizada com a realidade dos novos tempos?

Aliás, eu defendo uma tese: é quase impossível alguém acumular fortuna honestamente. Esclareço. Quando eu me refiro a honestidade não pretendo afirmar que as pessoas roubam no sentido mais comum do termo, como é o caso de um assalto a banco ou algo similar, muito embora isso também se aplica ao contexto. Eu me refiro em especial a: receber ou pagar suborno, sonegar impostos, fraudar licitações, contrabandear, desviar recursos de obras públicas, exorbitar nos preços dos produtos, enganar sócios, exorbitar nos juros, enganar intencionalmente o comprador, apropriar-se dos recursos de uma igreja através de artimanhas secretas... e por aí vai. Na realidade todos os exemplos citados são formas sutis ou sofisticadas de roubar. Quantos se refestelam em seus ricos “palácios” construídos sobre fundações de corrupção, roubo e exploração? E todos os domingos vão aos mais diversos templos agradecer as “bênçãos” de Deus! (sic). Irônico, não?    

Acredito que um bom exemplo que contraria a minha tese é o de quem ganha um grande prêmio na loteria. Bem, isso é apenas divagação que merece um comentário específico e à parte. Vou voltar ao assunto em questão e já concluindo.   

Na realidade ao acusado só caberia uma atitude para dirimir todas as dúvidas, além de processar a TV do seu desafeto, obviamente. Vir a público e mostrar, de forma clara e transparente, como foi a transação e qual a origem do dinheiro.

É simples assim? Para os honestos, sim.

Saulo Alves de Oliveira 

Um comentário:

  1. Pois é,Saulo,só resta ao acusado se defender com provas inquestionáveis,se ele for honesto...Difícil é encontrar quem seja honesto hoje em dia,tanto que quando se encontra um praticante desta qualidade tão rara,sai até notícia no jornal,como se fosse algo incrível.Um dia vi um político muito conhecido aqui no RN falando sôbre aquela denúncia no tribunal de justiça,aquela de Karla Ubarana,ele dizia que o Tribunal em questão era a última instituição que ainda não se tinha notícias de corrupção...(e ele?)Primeiro foi a corrupção no executivo,depois do legislativo e agora no judiciário...Pelo jeito nem as igrejas vão escapar...

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