Recentemente
eu li o seguinte comentário:
“A
chance que Deus tem dado ao povo brasileiro. Um presidente temente ao Senhor.
Oportunidade ímpar.” (sic)
Oportunidade ímpar.” (sic)
Quando
li esse comentário eu estava sentado. Ainda bem.
Você
pode ter várias razões para votar num elemento que representa e prega o mal,
que tem um linguajar chulo, grosseiro em suas ações e palavras, falto de
educação ou agressivo com mulheres, negros e homossexuais.
Evidentemente, eu não concordo, mas vivemos numa democracia, frágil, é verdade, porém, aos trancos e barrancos, e com boa vontade, ainda é uma democracia. Agora dizer que o atual ocupante da cadeira principal do Palácio do Planalto é uma pessoa temente a Deus, só porque o cara é simpático aos crentes ou porque diz coisas que agradam aos evangélicos... É uma das coisas mais disparatadas que eu já ouvi.
Eu
nasci, fui criado e cresci no meio evangélico, todavia, em determinado momento,
eu percebi que a irracionalidade religiosa – que caracteriza grupos fanáticos
dentro de quaisquer instituições religiosas, algumas mais afetadas por essa
distorção da fé, outras atingidas em proporção significativamente menor –, pode
fazer a pessoa acreditar nas coisas mais absurdas possíveis. E essa sem dúvida
é uma delas. Talvez isso explique muitos dos outros absurdos que eu tenho ouvido
nos últimos tempos.
As
histórias bíblicas estão repletas de homens tidos como exemplos de fé e de
temor a Deus, entretanto, lamentavelmente, alguns desses homens, sobretudo no
Velho Testamento, fizeram coisas absurdas que chocam quaisquer mentes
minimamente sensatas.
Eu
poderia citar diversos exemplos, porém acho que basta apenas um caso.
“Então, disse Samuel:
Trazei-me aqui Agague, rei dos amalequitas. E Agague veio a ele animosamente; e
disse Agague: Na verdade, já passou a amargura da morte. Disse, porém,
Samuel: Assim como a
tua espada desfilhou as mulheres, assim ficará desfilhada a tua mãe entre as
mulheres. Então, Samuel DESPEDAÇOU Agague perante o Senhor, em Gilgal.”
Samuel foi um dos grandes
profetas do V.T. e um dos mais importantes juízes de Israel. Foi ele quem fez a
transição do governo dos juízes para a monarquia. É sem dúvida um dos mais
reverenciados
profetas do V.T. Entretanto, no episódio acima, que pode ser lido em 1 Sm 15.
1-35, ele não se preocupou em submeter Agague a um julgamento justo e, se fosse
o caso, comprovado seu crime, condená-lo à morte através de um método mais
“humano”, como, por exemplo, enforcamento, se é que se pode considerar mais
humano o enforcamento de uma pessoa. Apesar de ser um espetáculo horrível e
deprimente, parece que o condenado não sente dores. Há alguns anos eu passei
por uma experiência bem desagradável, já relatada aqui neste blog, que me
autoriza a fazer essa observação.
Ao
invés de promover um julgamento justo, Samuel fez justiça com as próprias mãos,
DESPEDAÇANDO o rei dos amalequitas, certamente com uma espada. Se você tem
dúvidas quanto ao espetáculo chocante e terrivelmente assustador que ali se deu
– a não ser que você não se choque com cenas aterradoras e não tenha o menor apreço pela vida humana –, procure no dicionário o significado da
palavra “despedaçar”.
Haveria
alguma justificativa moral para essa atitude de Samuel?
Portanto,
sob esse ponto de vista, pode ser que o cidadão citado no início do texto seja
realmente temente a deus. Só nos resta descobrir um detalhe: qual é o deus?
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