Alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias.
Carl Sagan
Por Saulo Alves de Oliveira
Recentemente
eu assisti ao vídeo em que a futura ministra dos Direitos Humanos do governo do
“mito” (sic), Sra. Damares Alves, Pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular, relata emocionada uma interessante experiência que ela teve quando criança. Ela
descreve que foi vítima de abuso sexual dos 6 aos 8 anos e algum tempo depois,
pensando em se suicidar, teve uma visão extraordinária que a salvou da morte.
A
irmã Damares afirmou que, desesperada e pensando em tirar a própria vida, viu
Jesus subindo num pé de goiaba quando tinha apenas 10 anos de idade. Se eu
disser que acredito automaticamente nessa história, estarei mentindo. Todavia,
não posso afirmar com certeza absoluta que algo não aconteceu naquele momento
traumático da sua vida e que ela entendeu como sendo Jesus subindo em uma
árvore. De uma coisa eu sei: uma mente infantil, sobretudo aquela influenciada
pelo fanatismo religioso, e no auge do desespero, como era o seu caso, é capaz
de produzir coisas fantásticas.
Um
detalhe: em determinado momento do seu depoimento ela fala como se ainda fosse
aquela menininha de 10 anos e não uma mulher adulta. Ela também diz algo que é
de uma infantilidade muito clara: “Jesus é tão poderoso, tão poderoso, que Ele
conseguiu subir no pé de goiaba sem cair”. Subir num pé de goiaba é uma ação
que demonstra algum tipo de poder sobrenatural? Qualquer criança saudável é
capaz de subir numa árvore sem cair.
Eu
tenho uma experiência pessoal nessa área. Meu filho aos 7 anos teve uma visão
de algo que hoje poderia ser interpretado como sendo a presença de um “bicho”
ou de anjo em seu quarto. Felizmente, tudo foi esclarecido e na realidade não
passou de um fenômeno natural. Nós tivemos a lucidez de entender o que estava
acontecendo e assim evitar um possível trauma para o resto da sua vida. Alguns espíritas
conhecidos disseram: “Vocês precisam levar o menino a um centro espírita para
desenvolver sua mediunidade”. Nada mais tosco e sem sentido.
O
mais interessante na história da irmã Damares não é o fato dela, traumatizada
por ter sido abusada sexualmente dos 6 aos 8 anos de idade, ter dito que, aos
dez anos, viu Jesus subir num pé de goiaba. Imaginem a cabeça confusa dessa
criança à época do evento!
O
que me deixa pasmo é o fato de pessoas acreditarem, sem nenhum questionamento,
que realmente era Jesus. Ela não apresentou nenhuma evidência. Foi apenas o seu
testemunho pessoal. Uma experiência vivida única e exclusivamente por ela. A
irmã Damares afirmou, pronto... é a verdade absoluta, realmente foi Jesus que
apareceu!
Há
pessoas – pasmem agora vocês! – que acham minha preocupação totalmente
infundada. Essa não é a única história que ouvi com tal característica no meio
cristão. Talvez tenha sido a de maior repercussão, todavia não foi a mais
extraordinária.
Se
a irmã Damares é uma mulher sincera, não dada a crendices e fantasias hoje –
confesso-lhes que tenho minhas dúvidas - eu acredito que pode realmente ter acontecido
algo que ela interpretou, na sua cabeça infantil à época, como sendo Jesus
subindo em uma árvore. Todavia, isso não quer dizer com certeza absoluta que
esse fenômeno foi real.
Em
entrevista ao portal UOL, a futura ministra dos Direitos Humanos, Sra. Damares,
afirma: “Quando subi com o veneno vi meu amigo imaginário [observem: o amigo imaginário], o personagem que é Jesus, de barba
branca, roupa branca... Tem criança que vê duende, que fala com fadas. Eu vi
Jesus...”
Suas
palavras são sintomáticas quando se levanta a possibilidade de se tratar de uma
fantasia de criança. Colocar Jesus, duende e fadas num mesmo patamar, parece
realmente algo do imaginário infantil. Não existem duendes e fadas, mas há
pessoas que afirmam que os veem. Se
não existem duendes e fadas, porém as pessoas os veem, onde tais seres imaginários
se encontram? Só há uma resposta racional: em suas cabeças, em suas fantasias!
Para
mim, enquanto não forem apresentadas evidências convincentes de que realmente tal
fato aconteceu, admito apenas a possibilidade de que ela certamente viu, em sua
mente, alguma coisa especial que a impactou e ela interpretou como sendo Jesus
subindo em um pé de goiaba.
Questionada
sobre a possibilidade de se tratar de algo real ou de uma fantasia, uma amiga,
por incrível que pareça, afirmou: “Só quem pode te responder se a experiência
foi real ou se foi uma fantasia é a própria Damares.“ (sic) Imagino que
qualquer pessoa racional percebe que essa é uma afirmação totalmente sem
propósito.
Então,
eu lhe fiz a seguinte pergunta: “Se um muçulmano afirmasse que viu Maomé
subindo em uma figueira, você acha que ele seria a pessoa melhor indicada para
responder se sua experiência foi real ou se se tratou de uma fantasia?”
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