Por
Saulo Alves de Oliveira
De
dia, nas conversas com amigos, defende o armamento do cidadão. De noite, no
culto, prega um sermão baseado no Salmo 91, enfatizando a segurança daquele que
põe em Deus a sua confiança e ainda afirma que “Ele se preocupa com o crente
nos mínimos detalhes e o protege de todo o mal”.
Certa
vez, em uma discussão entre crentes sobre o armamento da população, eu fiz a
seguinte pergunta:
“A
quem propõe que as pessoas andem armadas, eu pergunto, especialmente aos
crentes: Por onde anda o 'anjo do Senhor' que acampa-se ao redor dos que o
temem e os livra?"
Um
dos interlocutores fez a seguinte observação: “Não me considero incrédulo,
porém o ‘anjo do Senhor’ não é bem como a gente pensa não. Embora tenha usado
uma arma bem menor do que Golias, Davi não esperou o ‘anjo do Senhor’ para
livrar Israel. Se fosse simples assim, nós e as nossas casas nunca seríamos
assaltados”.
Não
é de hoje que eu ouço essa desculpa “não é bem assim”. Como não é bem assim?
Por que os templos evangélicos, os locais onde Deus se manifesta, com todas as
promessas de que Deus guardará os seus, necessitam de sistemas de alarme e
guardas de segurança? Muitos os chamam de a “Casa de Deus”. Por que a “Casa
de Deus” precisa de segurança humana!?
Mas
é sempre assim. Quando a realidade da vida não é compatível com aquilo que
sempre ouvimos ou acreditamos, ou nos ensinaram, as desculpas são “não é bem
assim”, “temos que ver o contexto” ou “no original quer dizer outra coisa”, no
entanto, quando é para fazer as pessoas acreditarem e confiarem, nada disso é
levado em conta, nenhuma ressalva é feita.
“Aquele
que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará...
Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás
atingido... Porquanto fizeste do Senhor o teu refúgio, e do Altíssimo a tua
habitação, nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda”.
Numa
outra oportunidade, tendo como referência o texto acima, eu fiz a seguinte
pergunta: “Na sua opinião, por que pastores que creem e pregam o Salmo 91 andam
com segurança?”
Eu
soube que há pastores que andam em carros blindados e com seguranças armados.
Um
amigo pastor respondeu: “Ah, esse Salmo era uma profecia acerca de Jesus”.
Interessante.
Muito interessante!
Todavia,
quando é para justificar que Deus se preocupa com o crente nos mínimos detalhes
e o protege de todo o mal, é a vez do Salmo 91. Então, de acordo com a
interpretação do meu amigo, os crentes estão sendo enganados?
Quando
é para justificar que o crente está sujeito a todos os problemas comuns a
qualquer ser humano, é a vez de Eclesiastes 9.2.
A
realidade da vida, meus amigos, é como disse meu interlocutor no parágrafo 4,
acima: ”não é bem como a
gente [o crente] pensa não”. A verdade da vida é realmente a de Eclesiastes
9.2.
A
minha pergunta inicial foi apenas uma provocação com base naquilo que as
pessoas sempre acreditaram. Se fosse assim não haveria crentes que nascem,
crescem, vivem e morrem em situações de quase miséria, talvez alguns na miséria
mesmo.
Será
que os crentes, especialmente os pregadores, realmente acreditam naquilo que
pregam ou é apenas retórica para fazer prosélitos?
Eu
conheço líderes religiosos que são experts na técnica das artimanhas do engano,
pois usam a Bíblia para convencer os incautos fazendo-os acreditar em coisas
que são totalmente incompatíveis com a realidade da vida humana e, como
resultado da sua pregação enganosa, tais experts do mal estão riquíssimos à
custa dos pobres.
A
dura realidade é que os crentes têm os mesmos problemas, as mesmas
dificuldades, sofrem as mesmas doenças e morrem do mesmo modo que todas as
outras pessoas, tenham elas crenças ou não, tenham fé ou ceticismo. A grande
diferença é que os crentes morrem na esperança da vida futura ou eterna, os
céticos, não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário