Por
Saulo Alves de Oliveira
De
vez em quando eu me vejo refletindo sobre a questão do livre arbítrio. O livre
arbítrio, embora tenha alguns aspectos questionáveis, me parece um tema muito
mais palatável, e até certo ponto racional, do que a doutrina da predestinação,
uma das coisas mais terríveis e injustas que eu já ouvi falar.
De
acordo com o criacionismo, Deus fez pessoalmente o
primeiro casal e o colocou num lugar chamado Jardim do Éden, há cerca de 6.000 anos. A teologia cristã também diz que Deus os fez, homem
e mulher, com o livre arbítrio, ou seja, com a capacidade de escolher ou o bem
ou o mal, pois, se não tivessem livre arbítrio, os primeiros seres humanos
seriam como robôs, verdadeiros autômatos, isto é, indivíduos que obedeceriam à
vontade alheia e não por escolha própria. Portanto, homem e mulher obedeceriam
a Deus por obrigação, não por opção. Consequentemente, não seriam felizes. Mais
ou menos assim tentam justificar os defensores do livre arbítrio.
Lamentavelmente,
porém, os primeiros seres humanos escolheram o mal, isto é, se rebelaram contra
Deus, e, como consequência dessa escolha voluntária, toda sorte de males – doenças,
injustiças, guerras, dores, fome, morte, calamidades naturais, pestes, trabalho
pesado... – caíram sobre si e sobre todos os seres humanos que vieram depois, e
ainda hoje a humanidade paga pelo erros de Adão e Eva.
(Desculpem-me,
mas essa é uma teologia em relação à qual eu não tenho nenhuma simpatia. Eu não
posso ser responsabilizado por erros cometidos por outras pessoas há cerca de
6.000 anos. Eu não posso ser responsabilizado nem ao menos pelos erros dos meus
pais. Por que eu deveria sofrer as consequências de erros cometidos quando eu
nem sequer existia? Eu sou responsável e devo pagar pelos meus próprios
pecados.)
Todavia,
de acordo com a Bíblia, Jesus veio ao mundo para redimir o ser humano e assim restaurá-lo
à sua condição primeira, e essa redenção dar-se-á também com a criação de novo
Céu e nova Terra, onde os salvos, isto é, os seres restaurados, irão morar.
Deus restaurará a Terra à sua condição original.
Com
esses pensamentos em mente, eu estava me questionando: os habitantes da nova Terra
terão livre arbítrio?
Alguém
pode achar que é uma pergunta tola, mas não é. Qualquer que seja a resposta ela
encerra implicações profundas.
Senão, vejamos.
Se haverá livre arbítrio na nova Terra, acho que é perfeitamente
razoável que se faça a seguinte pergunta: nesse lugar de criaturas livres
haverá liberdade de escolha, e Deus também permitirá a possibilidade dos seres restaurados escolherem o mal, como fez no princípio?
Se a resposta for sim, isso quer dizer que também
haverá a possibilidade de nova queda e aí nós poderemos entrar numa sequência interminável
de quedas e restaurações.
Se a resposta for não, então haverá apenas
uma restauração de todas as coisas, entretanto isso quer dizer que os seres
desse novo Céu e nova Terra, preparados por Deus, não terão a liberdade de
escolher o mal, portanto eles serão como autômatos, sem o direito de fazer
escolhas entre o bem e o mal.
Todavia, isso nos leva a outra questão: nessa
nova condição de autômatos, os seres restaurados serão felizes?
Se sim, concluo que Deus poderia ter adotado
essa mesma solução no princípio da Criação, o que teria evitado, evidentemente,
todos os problemas e todo mal e sofrimento que a humanidade tem enfrentado até
hoje em consequência da queda dos nossos primeiros pais.
Se não, então serão autômatos e infelizes, portanto
na nova Terra, no lugar que Deus preparou para os seres humanos restaurados, haverá
sofrimento, haja vista que infelicidade também é sinônimo de sofrimento.
Há, talvez, outras considerações a fazer. Por
exemplo: alguém pode alegar que o princípio, a causa primeva do mal, Satanás,
estará preso em prisões eternas e dessa forma não poderá mais investir contra a
Criação restaurada. Lamentavelmente, esse fato não resolve a questão em
definitivo, posto que, se assim é, por que Deus não adotou essa solução no
princípio da Criação?
Bom, acho que é melhor ficar por aqui. Parece-me
que o assunto é bastante complexo. Esta pequena reflexão é só para instigá-lo a
pensar... o que eu já venho fazendo há um bom tempo.
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