sábado, 16 de abril de 2016

Divagação antes de Morfeu chegar

Por Saulo Alves de Oliveira

Certa noite eu demorei mais do que o normal para adormecer, e, na luta entre Morfeu e a lucidez, uma divagação tomou conta da minha mente.

A maior parte dos meus amigos do Facebook é formada por evangélicos. Os não evangélicos são minoria. Portanto eu não sei se é correta essa comparação. Não sei se probabilisticamente é válida.

Entretanto, como nem todos os amigos evangélicos frequentam assiduamente essa rede social, especialmente para compartilhar algo acerca do tema “política”, acho que não cometo uma impropriedade com esta simples análise.

Em sua grande maioria – não estou generalizando, obviamente – os evangélicos são favoráveis à quebra da ordem institucional, isto é, defendem a volta dos militares ao poder ou, sem eufemismo, defendem a volta da ditadura, pois governo sem eleições livres nada mais é que ditadura. Dizendo de outra forma: defendem o golpe. O que para mim, que participei ativamente do mister evangélico durante muitos anos, é, de certa forma, uma enorme decepção.

Acontece que eu já deveria saber disso, se tivesse atentado para as concepções fundamentalistas ou conservadoras da grande maioria dos evangélicos, especialmente da Igreja em que nasci e fui criado, e na qual vivi intensamente durante grande parte da minha vida. 
  
Os não evangélicos, ao contrário, em sua grande maioria não são favoráveis à quebra da ordem institucional, isto é, defendem a democracia com todos os seus defeitos, pois sabem que a democracia é um sistema falho e imperfeito, porém ainda não inventaram nada melhor para o próprio povo escolher seus governantes. E, no caso brasileiro, só o exercício do voto - às vezes acertando, outras vezes errando - nos transformará, ao longo do tempo, em bons eleitores, conscientes da importância do voto.

Eu confesso que não sei explicar com absoluta segurança essa dicotomia.

E o pior: entre os evangélicos há muita gente com boa formação intelectual, entretanto o corpo está em 2016 e a cabeça em 1964. Lamentavelmente, esse quadro, de um mal pintor, é ainda mais grave: não são só os mais velhos não. Muitos jovens também têm a cabeça em 1964.

Penso que isso daria uma boa tese de mestrado: a formação do pensamento político dos evangélicos.   

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