Por Saulo Alves de Oliveira
Certa
noite eu demorei mais do que o normal para adormecer, e, na luta entre Morfeu e
a lucidez, uma divagação tomou conta da minha mente.
A
maior parte dos meus amigos do Facebook é formada por evangélicos. Os não
evangélicos são minoria. Portanto eu não sei se é correta essa comparação. Não
sei se probabilisticamente é válida.
Entretanto,
como nem todos os amigos evangélicos frequentam assiduamente essa rede social,
especialmente para compartilhar algo acerca do tema “política”, acho que não
cometo uma impropriedade com esta simples análise.
Em sua
grande maioria – não estou generalizando, obviamente – os evangélicos são
favoráveis à quebra da ordem institucional, isto é, defendem a volta dos
militares ao poder ou, sem eufemismo, defendem a volta da ditadura, pois
governo sem eleições livres nada mais é que ditadura. Dizendo de outra forma:
defendem o golpe. O que para mim, que participei ativamente do mister
evangélico durante muitos anos, é, de certa forma, uma enorme decepção.
Acontece
que eu já deveria saber disso, se tivesse atentado para as concepções
fundamentalistas ou conservadoras da grande maioria dos evangélicos,
especialmente da Igreja em que nasci e fui criado, e na qual vivi
intensamente durante grande parte da minha vida.
Os não
evangélicos, ao contrário, em sua grande maioria não são favoráveis à quebra da
ordem institucional, isto é, defendem a democracia com todos os seus defeitos,
pois sabem que a democracia é um sistema falho e imperfeito, porém ainda não
inventaram nada melhor para o próprio povo escolher seus governantes. E, no caso
brasileiro, só o exercício do voto - às vezes acertando, outras vezes errando - nos transformará, ao longo do tempo, em bons eleitores, conscientes da importância do voto.
Eu
confesso que não sei explicar com absoluta segurança essa dicotomia.
E o
pior: entre os evangélicos há muita gente com boa formação intelectual,
entretanto o corpo está em 2016 e a cabeça em 1964. Lamentavelmente, esse
quadro, de um mal pintor, é ainda mais grave: não são só os mais velhos não. Muitos
jovens também têm a cabeça em 1964.
Penso
que isso daria uma boa tese de mestrado: a formação do pensamento político dos
evangélicos.
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