Por Saulo Alves de Oliveira
No grande templo, Maria esperava
sua vez na fila. Ela, o marido e um bebê de poucos meses.
O bispo, pastor – ou seria apresentador?
–, com seu jeito matreiro e muito bem ensaiado de outros “shows”, vai chamando
um a um os fiéis.
Finalmente chegou a vez de Maria.
– Qual o seu nome?, pergunta o
apresentador.
– Maria, responde a fiel.
– Conte o seu milagre Maria, diz o
avatar de sacerdote.
“Eu tenho 10 anos de casada e
durante 9 anos tentei e não consegui engravidar. Então participei da ‘Corrente
da Oração de Ana¹’ e aqui está o resultado.” Maria aponta para uma criança de
meses nos braços do marido ao lado e, em seguida, a toma para si.
Aí o apresentador faz a maior
festa. E diz: “Está vendo pessoal, a ‘Corrente da Oração de Ana¹’ é muito forte
e resolve mesmo a situação de qualquer mulher que não pode engravidar”.
– Vá em paz Maria , diz-lhe
despedindo-a, e chama o próximo da fila.
Maria mentiu? Não, exatamente.
Ela simplesmente omitiu. E para o avatar de sacerdote o que interessa mesmo é
só essa parte da história.
E o que Maria omitiu?, alguém pode
estar se perguntando. Os 6 anos de intenso tratamento médico que ela fez para
engravidar e que finalmente dera resultado. Na realidade, a criança que Maria
tomou em seus braços nada tem a ver com a “Corrente da Oração de Ana¹”. Aquela
criança é tão somente o resultado de um longo e sério tratamento médico que,
felizmente, transformou em realidade o sonho de uma mulher que queria ser mãe.
Se você já ouviu alguma história
parecida não é simples coincidência.
“Corrente da Oração de Ana¹” pode
ter qualquer outro nome, como, por exemplo, óleo consagrado aos pés do monte
Sinai, água do rio Jordão, pano disso ou pano daquilo, toalhinha da bênção... e
por aí vai.
¹Quem não conhece a história
talvez não entenda porque “Corrente da Oração de Ana”. Segundo o relato
bíblico, Ana foi uma mulher que não podia ter filhos e que, após orar e chorar
no templo do Senhor, engravidou e teve um filho, ao qual pôs o nome de Samuel –
I Sm. 1.1-28.
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