Por Saulo Alves de
Oliveira
O fato de você acreditar que um asno é um cavalo ou um avestruz
é uma águia não fará do asno um cavalo nem do avestruz uma águia. O asno sempre
será um asno e o avestruz sempre será um avestruz.
Você pode acreditar em algo simplesmente porque lhe traz
conforto e consolo, mas tal fato não é suficiente como prova de que sua crença
não está restrita ao mundo do imaginário, ainda que coletivo. Simplesmente
acreditar não transforma o irreal em algo tangível, concreto.
Bom, esta é minha opinião: se você prefere não conhecer a
verdade porque a mentira é reconfortante, é um direito seu. Só você pode
decidir. Quanto a mim, prefiro uma verdade que machuca a uma mentira consoladora.
Crianças acreditam em Papai Noel e isso é maravilhoso para elas. Foi
para mim também quando criança. Mas Papai Noel simplesmente não existe. Por
mais que alguém acredite em fadas, duendes, gnomos ou lobisomens, tais seres não existem.
Veja a que ponto chega a crendice popular. Pessoas acreditam
que tomar um copo de água “ungida” ou água do rio Jordão lhes trará algum
benefício.
Eu fico atônito, em perplexidade com o fato de alguém pregar
e muitos incautos acreditarem que o ato de tomar um copo de água “ungida”, água
orada, água benzida, água consagrada
trará benefícios para alguém. Água é simplesmente H2O,
seja “ungida” ou não. Me incomoda, aliás, me entristece profundamente o fato de
em pleno século 21 pessoas ainda se deixarem levar por essas e tantas outras
crendices tolas e até infantis.
Resquícios medievais em pleno século da razão.
Água do rio Jordão, óleo santo, folha de arruda, sal grosso,
oração forte, benzedeira, “despacho”,
leitura de cartas, caixinha de promessas, rezar Ave Maria, sinal da cruz,
ofertar, passar fome, pano santo, suor santo, oração no monte, fixar uma mezuzá
na porta, flagelar o próprio corpo, tornar-se “parceiro” de Deus, “semear”
alguns reais, depositar na conta de tal igreja, etc. Há muito mais. Meu Deus! É
tanta superstição que me assusta. E afronta a inteligência humana.
Simples placebos!
Se alguma coisa boa acontecer na vida de alguém após tomar
água “ungida” ou consagrada, só tem duas explicações: 1) autossugestão, que faz
a pessoa se empenhar mais em relação a algum propósito, alcançando-o com mais
facilidade; ou 2) evento natural que acontece na vida de qualquer pessoa, com
ou sem água “ungida” ou outra crendice qualquer.
(Na realidade, a palavra não é exatamente “crendice”, mas,
para não ser agressivo, fica “crendice” mesmo.)
É muito simples chegar a essa conclusão. Observe a vida das
outras pessoas, que têm fé ou não ou que têm fé diferente da sua, às vezes
totalmente contrária à sua. Quando não totalmente céticas. E tudo lhes sucede exatamente
da mesma forma, derrotas e vitórias, curas e não curas, sucesso e insucesso,
vida e morte, com ou sem água “ungida”.
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