“Ah, mas nossa presidenta fez uma doação generosa à ditadura cubana, para a construção do bem equipado porto de Mariel! Como ela é generosa, com nosso dinheiro!”
As palavras
acima são de autoria de alguém que já foi um referencial em minha vida,
especialmente na minha juventude e parte da vida adulta.
Todos sabemos,
pelo menos quem se mantém minimamente informado, que o Brasil não fez doação
alguma a Cuba e sim um empréstimo, via BNDES, para construção de um moderno
porto naquele país. E, segundo alguns especialistas, é um bom negócio para o
Brasil.
Veja aqui entrevista com o diretor da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo –, Thomaz Zanotto, acerca do tema. Veja também,
no mesmo site, a opinião da polêmica jornalista Rachel Sheherazade.
Dessa forma, não
sei qual a intenção do autor da frase, já que se trata de uma pessoa bem
esclarecida, que tem formação profissional exatamente nessa área.
Pela posição que
o autor da frase ocupa na sociedade, essa atitude é extremamente lamentável,
haja vista que muitas pessoas desavisadas poderão repercutir suas palavras como
uma verdade inquestionável.
Para mim,
portanto, é profundamente decepcionante mesmo, pois, apesar de não concordar
com algumas de suas opiniões políticas, eu sempre o tive em alta conta e respeito.
Todos temos
pessoas que foram ou são nossos referenciais. Nossos pais, um professor, um
amigo, um pastor, um padre, um escritor, etc.
É lamentável
quando alguém que já foi nosso referencial tem uma postura questionável ou
escreve algo que, pelo seu conteúdo implausível, nos decepciona.
Quando tal
pessoa divulga algo que a gente sabe que essa pessoa sabe que não é verdade,
pelo seu nível intelectual e pela sua formação profissional, aí a coisa toma
uma dimensão muito mais grave.
É muito comum
pessoas inescrupulosas divulgarem na internet notícias ou opiniões que não são
verdadeiras, muitas vezes difamando “desafetos” ou mesmo instituições. E isso
causa um prejuízo enorme ao difamado, especialmente quando divulgado por alguém
que tem dezenas, centenas ou até milhares de discípulos, e estes têm aquele
referencial como uma personalidade cujas palavras são a expressão da verdade.
É o que nós
podemos chamar de “testemunho de autoridade”. “A autoridade falou, quem sou eu
para questionar?” Felizmente, eu já ultrapassei essa etapa intelectual primária
há muito tempo. Para mim, não há quem não possa ser questionado, em qualquer
área do conhecimento humano, da ciência à religião.
Quando
afirmações sem consistência procedem de pessoas precipitadas, despreparadas ou
mal intencionadas mesmo, nós podemos até pensar: dessa mente deformada ou, quem
sabe, que recebeu algum tipo de lavagem cerebral, só pode sair isso mesmo.
Porém, quando vem de alguém que já foi nosso referencial, com todo o preparo
intelectual que sabemos que tem, é profundamente lamentável.
Não tenham
dúvidas, só nos cabe uma alternativa: rever o que ainda nos resta dos referenciais
relacionados àquela pessoa.
Saulo Alves de
Oliveira
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