E os
outros povos? E os palestinos? Não merecem ser amados também?
De vez em quando eu me pergunto: “Por que alguns evangélicos fazem questão de dizer que amam e oram por Israel e não fazem o mesmo pela Palestina, isto é, pelo povo palestino?”
Certa vez, diante desse
questionamento, alguém me fez a seguinte observação: “É porque eu encontro na
Bíblia um versículo que diz assim: Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam – Sl. 122:6. Portanto, já tenho argumento
suficiente para manter um carinho todo especial pelo povo criado e escolhido
por Deus”.
Acontece que eu também encontro argumentos
suficientes nos textos abaixo para proceder da seguinte forma:
Gn. 27.5-45 – acreditar que os fins justificam os meios;
Ex. 22.28 – parar de criticar o governo e deixar de afrontá-lo com
postagens às vezes deselegantes e, lamentavelmente, com inverdades, como muitos
estão fazendo;
Ex. 23.2 – deixar de apoiar os protestos contra o governo, pois
estes resvalam para o mal (depredações, arruaças, prejuízos ao patrimônio
público e/ou privado);
Lv. 7.23 – proibir as pessoas de comerem gordura, não só por
questões de saúde – neste caso trata-se de orientação, e não de tirar o direito
das pessoas optarem –, mas porque é uma ordenança bíblica;
Lv. 12.2-5 – considerar qualquer mulher imunda após o parto e proibi-la
de ir à igreja durante 40 dias, se tiver um menino, ou durante 80 dias, se tiver
uma menina. Também acho argumento para fazer discriminação entre homem e
mulher;
Lv. 20.9 – mandar matar todos os filhos que desobedecerem a seu pai
ou a sua mãe;
Lv. 21.18-20 – proibir qualquer homem com defeito físico de estar à
frente de qualquer igreja, incluindo-se nessa proibição os anões, os corcundas
e o que tiver nariz chato. A
pergunta a seguir é específica para os evangélicos da Assembléia de Deus de
Natal: “Isso lembra vocês de alguma coisa?”
Dt. 25.11,12 – mandar decepar a mão da mulher que, a fim de livrar o
marido daquele que o agredia em uma briga, pegou na genitália do agressor;
Sl. 137.9 – retribuir da mesma forma o mal que alguém fizer aos
nossos filhos, inclusive, se for o caso, jogando os filhos pequenos dos nossos
desafetos contra as pedras; ou, como diz outra versão, “despedaçá-los contras
as rochas”;
Mt. 19.21 – afirmar que todos os que querem ter um tesouro no céu
devem vender tudo o que têm e entregar aos pobres, ou seja, na igreja não podem
existir ricos;
Rm. 13.1,2 – parar com a ideia de impeachment dos governantes, pois
isso é “resistir à ordenação de Deus”;
1 Co. 14.34,35 e 1Tm.
2.11,12 – proibir qualquer mulher de pregar e ensinar, o que significa,
obviamente, proibi-la também – o que me parece fundamental – de ser pastora. As
mulheres devem ficar simplesmente sentadas nos bancos das igrejas ouvindo em silêncio. E, se quiserem
saber alguma coisa, perguntem em casa aos seus maridos. Evidentemente, eu não
sou machista, portanto não comungo desse ensino do apóstolo Paulo;
2 Jo. 1.10 – não receber em casa, nem sequer falar com aqueles que
não participam conosco da mesma compreensão da fé cristã.
Eu quero deixar claro, todavia,
que não concordo com nenhum desses argumentos que citei, exceto quanto a
postagens deselegantes e com inverdades ou quanto às manifestações com arruaças
e depredações.
Infelizmente, a Bíblia dá margem
a muitas interpretações, ao sabor dos interesses de qualquer um. Todos os
textos citados e muitos outros fizeram parte de um momento da história de
Israel ou da história cristã e estavam de acordo com as circunstâncias de uma
época. Não podemos simplesmente trazê-los ao pé da letra para o nosso tempo sob
pena de causarmos um enorme prejuízo às relações humanas.
Em alguns casos eu chego a me
perguntar: como Deus pôde estabelecer ou aceitar leis, práticas ou costumes tão
bárbaros?
As palavras do Salmo 122,
versículo 6, por exemplo, foram proferidas por Davi talvez há cerca de 3.000
anos. É perfeitamente compreensível que Davi assim se expressasse, pois ele
era um israelita, um judeu, rei de Israel, que amava seu povo e sua terra.
Entretanto, isso não quer dizer que Davi estava afirmando que “não orem pelos
outros povos nem os amem”. E se ele assim tivesse afirmado, eu não teria receio
algum em dizer que “não concordo com Davi”.
O próprio Jesus afirmou “Amai aos
vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem”.
Veja bem: nem sequer os
palestinos são nossos inimigos ou nos perseguem. Não há motivo algum para não
amá-los ou não orar por eles.
Devemos amar e orar não só por Israel
e pelos palestinos, mas por todos os povos do mundo.
Todavia, se você insiste em só
amar e orar por Israel, é um direito seu. Você é livre para proceder da forma
que achar conveniente e conforme a compreensão que tem da Bíblia.
Saulo Alves de Oliveira
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