Se eu acredito? Bom, tire suas
próprias conclusões.
Muitas pessoas creem em coisas
absurdas, até mesmo insanas. Até aí, tudo bem. O grande problema é quando elas acham
que têm a obrigação de fazer as outras pessoas acreditarem também.
Num vídeo, que pode ser acessado aqui, certo comentarista faz diversas afirmações tomando como base parte do
livro do Apocalipse. Para que você possa entender melhor o meu comentário,
seria interessante assistir ao vídeo.
Dentre as várias associações que
ele faz do Apocalipse com a Igreja Católica, afirmando inclusive que a Igreja
de Roma é a grande prostituta de que fala João (Ap. 17.1-7), a que mais me chamou
a atenção foi a de que o papa João Paulo II vai ressuscitar. (sic)
Qualquer pessoa é livre para
acreditar no que quiser. Eu aprendi, entretanto, que o importante não é
acreditar, mas saber a verdade.
Às vezes eu tenho a sensação de
que certos pregadores, em suas preleções, ainda que inconscientes, querem fazer
seus ouvintes de idiotas. E me vem à mente a seguinte pergunta: será que ele acredita mesmo no
que está afirmando?
Infelizmente a Bíblia dá margem a
várias interpretações. Sobretudo tratando-se do Apocalipse, com tantas figuras
e símbolos. Se não fosse assim não existiriam tantas igrejas/denominações com
doutrinas tão divergentes.
Arrisco-me a dizer que
qualquer bom teólogo católico desmontaria toda essa série de interpretações
ligando o Apocalipse a fatos relacionados à Igreja Católica.
Antes, porém, de qualquer
tentativa de compreender o último livro da Bíblia, há um fato profundamente
complicado que precisa ser previamente esclarecido.
Se os
acontecimentos relatados no Apocalipse são para os nossos dias ou para dias
futuros, por que João disse que eram “...as coisas que brevemente devem
acontecer...”, isto é, eram coisas para o seu tempo? Ap. 1.1,3 e 22.6.
É evidente que alguns estudiosos tentam
contornar essa dificuldade.
O autor do livro “O futuro
glorioso do planeta Terra” afirma: “O tempo é relativo. (...) um período de mil
anos é fugaz perante a eternidade. O Apocalipse encerra uma história que
começou com a criação. Embora os acontecimentos narrados cubram um período de
dois mil anos ou mais, contudo, quando comparados com a totalidade do tempo,
são coisas que em breve devem acontecer”.
Acontece que João estava falando
para seres finitos, para os quais o tempo é algo profundamente importante. João
falava para seres humanos que certamente jamais interpretariam “brevemente”
como 2.000 anos.
Por que, ao invés de
“brevemente”, João não citou um número próximo a “2 mil ciclos ou revoluções terrestres”,
fazendo referência ao movimento de translação da Terra ao redor do Sol, mesmo que esse fenômeno não fosse conhecido
no seu tempo?
Ou ainda “24 mil revoluções
lunares, fazendo referência ao movimento da Lua em órbita da Terra?”
Em ambos os casos o final do
período coincidiria com o nosso tempo.
E continua o autor: “O Apocalipse
é uma profecia sobre coisas que ‘em breve devem acontecer’. Isso não significa
que todas as coisas, nesse livro, haveriam de ocorrer imediatamente depois que
João recebeu a visão. Mas aproximava-se o tempo para o início do desenrolar de
uma série de eventos.”
Foi uma boa tentativa, entretanto
não me parece uma explicação plausível para o que João quis dizer. Simplesmente
transformar 2.000 anos em “brevemente”, salvo uma inquestionável interpretação escatológica
do texto, parece-me um exercício de puro contorcionismo para ajustar os
acontecimentos atuais ao Apocalipse.
Eu não estou afirmando
categoricamente que o Apocalipse não é para os nossos dias. Estou apenas levantando
uma questão fundamental que precisa ser esclarecida previamente, sob pena de prejudicar
qualquer interpretação do enigmático livro.
Por sua vez, essa história do
nome de João Paulo II somar 666 também é um enorme contorcionismo para
identificá-lo com a besta de Ap. 13.17,18. E as outras letras do nome? Elas não
interferem em nada? Meu próprio nome soma 662, por pouco não chega a 666. É
claro que existem inúmeros outros nomes que, usando o mesmo critério, somam
666. Por exemplo, se o meu nome fosse
“sauLo geoVano aLVes Da sILVa” somaria exatamente 666.
Ainda segundo o autor do livro já
citado: “É surpreendente o número de nomes que, na mão de estudiosos, podem dar
como total o número 666. Eis alguns desses nomes: Nero, César, Papa Benedito
IX, Maomé, Martinho Lutero, João Calvino, Napoleão Bonaparte”.
Segundo Kenneth Gentry, teólogo
norte-americano, da Igreja Presbiteriana: “Tem sido documentado por descobertas
arqueológicas que uma grafia hebraica do nome de Nero, do primeiro século, nos
fornece precisamente o valor de 666 [Ele apresenta a grafia que eu não pude
reproduzir aqui]. Um grande número de eruditos bíblicos reconhece esse nome como
a solução para o problema”.
.
Bom, o interessante e inusitado é
que o próprio comentarista, depois de fazer toda a ligação das figuras e
imagens do Apocalipse com os dias atuais, não parece ter certeza do que está
afirmando. Aos 28 minutos e 22 segundos do vídeo ele faz a seguinte pergunta: “Estaria
tudo isso certo? Se estiver, nós estamos diante de uma decisão. Se não estiver,
não perdemos nada. Mas se estiver, realmente vale a pena observar a Bíblia...”
Como não perdemos nada? Então ele
faz uma previsão profética com base na Bíblia, segundo a sua interpretação e de
outros estudiosos, e depois ela não acontece, e ele não perde nada? Afinal de
contas, trata-se de uma brincadeira? Então não é algo para ser levado a sério,
pois pode acontecer ou pode não acontecer! Se não tem certeza do que está
falando, o melhor é ficar calado.
Se João Paulo II não ressuscitar,
ou não aparecer, qualquer que seja a forma de sua aparição – é evidente que eu
não acredito nisso –, fica o dito pelo não dito? Ele faz essa divulgação tão impactante,
que por certo terá uma enorme influência na vida de muita gente, talvez cause
até medo nas pessoas, e depois diz que se nada acontecer não se perde nada? É
claro que se perde, e muito, no mínimo a credibilidade e o respeito das
pessoas, pelo menos o meu, e acredito que o de muitas outras pessoas que têm a
cabeça no devido lugar.
Afirmar o que não se tem certeza
é, no mínimo, uma enorme irresponsabilidade.
Saulo Alves de Oliveira
voce esta totalmente certo, pois em deuteronômio fala que as coisas reveladas e para nós, e as misteriosas e para Deus
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