Galáxia de Andrômeda, localizada a uma distância de aproximadamente 2,5 milhões de anos-luz da Terra |
Querida Paola,
Em uma carta anterior eu contei a você algumas coisas acerca da Luz. Disse-lhe que a velocidade da Luz no vácuo é 300 mil quilômetros por segundo. Para dar uma ideia melhor do que isso representa, propus um pequeno experimento mental que nos levou à conclusão de que um foguete, deslocando-se a essa velocidade, daria sete voltas e meia ao redor do equador terrestre em um segundo (a circunferência da linha do equador mede aproximadamente 40 mil quilômetros). Algo realmente fantástico.
Agora as coisas são um pouquinho mais complicadas.
O Sol é a “nossa” estrela. É aquele “bonitinho” – palavra que você gosta muito de pronunciar – que lhe causa manchas avermelhadas quando você vai à praia sem protetor especial. A Terra caminha no espaço girando ao redor do Sol presa pela força gravitacional. O Sol é uma gigantesca bola de gases incandescentes – cerca de 91,2 % de hidrogênio, 8,7% de hélio e 0,1% de outros elementos. Seu diâmetro tem cerca de 1,4 milhão de quilômetros. Dentro do Sol cabe algo em torno de 1,3 milhão de planetas iguais à nossa Terra. O “nosso” Sol fica a aproximadamente 150.000.000 de quilômetros da Terra. Mesmo a uma velocidade fantástica, a luz do Sol demora cerca de 8 minutos para chegar até nós.
Vamos fazer um pequeno experimento mental para dar uma idéia melhor do que isso representa. Vamos supor que o Sol é uma lâmpada acesa e que está conectada a um interruptor aqui na Terra. Ao acionarmos o interruptor, desligamos o Sol imediatamente (claro que isso é impossível, há leis físicas que o proíbem, mas lembre-se: nós estamos fazendo um experimento mental). O que aconteceria se isso fosse possível? Se você estivesse tomando banho de mangueira no quintal da nossa casa num sábado pela manhã, você poderia continuar a fazê-lo normalmente por 8 minutos, até subitamente a luz desaparecer e tudo ficar escuro como breu. Então você daria um grito enorme chamando a mamãe ou o vovô.
O Universo é tão vasto, tão extraordinariamente vasto que, mesmo à velocidade da luz, qualquer nave levaria 4,3 anos para chegar à estrela mais próxima, Alfa Centauro, cuja distância à Terra é de aproximadamente 40.680.000.000.000 de quilômetros.
[O Alfa Centauro] É na verdade, um sistema triplo, duas estrelas girando uma em torno da outra, e uma terceira, a Próxima Centauro, orbitando o par a uma distância discreta. Em algumas posições em sua órbita, a Próxima é a estrela conhecida mais próxima do Sol, justificando o seu nome. [O interessante é que] A maioria das estrelas no céu é parte de sistemas duplos ou múltiplos. Nosso solitário Sol é quase uma anomalia (Carl Sagan, em Cosmos).
Um dia quando você estiver maior eu lhe apresentarei a fantástica obra de Carl Sagan.
Você já imaginou se nós tivéssemos três sóis? Seria bastante interessante, não acha? Talvez sempre fosse dia aqui na Terra.
E só na galáxia da Via Láctea – onde se localizam a nossa Terra, a nossa cidade, a nossa casa e todas as pessoas que conhecemos ou ouvimos falar –, existem cerca de 200 bilhões de estrelas. Dá-se o nome de galáxia a um agrupamento enorme de estrelas.
Andrômeda, a galáxia grande mais próxima da Via Láctea, está localizada a “2.500.000 x 9.460.800.000.000” de quilômetros. Certamente você ainda não sabe fazer essa conta, mas fique certa que o resultado é um número enorme. Tratando-se de Universo, os números são literalmente astronômicos.
Veja bem: essa é a distância de uma das galáxias mais próximas à Via Láctea. E para complicar: há estimativas que se referem a centenas de bilhões de galáxias no Universo conhecido, cada uma com centenas de bilhões de estrelas.
De acordo com um cálculo feito em 2003 por astrônomos da Universidade Nacional da Austrália, o número de estrelas no Universo conhecido pelo homem, visíveis pelos mais modernos telescópios, seria de 70 sextilhões, ou 7 seguido de 22 zeros (do livro Poeira das estrelas, de Marcelo Gleiser).
Os objetos mais distantes já descobertos pelos cientistas no Universo estão tão longe da Terra que a distância que nos separa deles, em quilômetros, é da ordem de grandeza de 1 seguido de 23 zeros. Estou complicando muito, não é Paola?
Como você já percebeu, quando a gente se refere ao Universo os números são realmente superlativos, inclusive no que tange às distâncias. Por esse motivo, para facilitar as coisas, os cientistas criaram o Ano-luz, que é uma unidade de medida de distâncias, tal qual o metro ou o quilômetro. Só que 1 Ano-luz é a distância que a Luz percorre em um ano. Seu cálculo é feito multiplicando-se os seguintes termos: 365 x 24 x 60 x 60 x 300.000, cujo resultado é 9.460.800.000.000, ou seja, 1 Ano-luz corresponde a quase 9,5 trilhões de quilômetros.
Portanto, para concluir – e para não cansá-la –, vou relacionar abaixo algumas distâncias em Ano-luz (números aproximados):
1) do Sol à Terra: 0,0000158 anos-luz (ou 8,3 minutos-luz)
2) do Sol a Plutão: 0,000625 anos-luz (ou 5,5 horas-luz)
3) do Sol ao centro da galáxia da Via Láctea: 26 mil anos-luz
4) diâmetro da Via Láctea: 100 mil anos-luz
5) da Via Láctea à galáxia de Andrômeda: 2,5 milhões de anos-luz
6) do objeto mais distante descoberto pelos cientistas: 13 bilhões de anos-luz.
É, minha Netinha, o Universo é realmente de uma grandeza incomensurável. E, diante de sua magnitude, nós, seres humanos, somos pouco mais do que o nada. Somos “poeira das estrelas”, como afirmou o físico e astrônomo Marcelo Gleiser. Somos literalmente poeira das estrelas, pois os elementos químicos que compõem os nossos corpos foram todos produzidos em antigas estrelas que explodiram e arremessaram no espaço sideral enormes quantidades desses elementos, os quais alcançaram uma gigantesca nuvem de hidrogênio. E juntos, hidrogênio e outros elementos químicos, deram origem ao “nosso” Sol e à nossa Terra. A querida Terra que nos produziu e que é o lar de todos os seres vivos.
Um beijo do seu avô,
Saulo
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