A
minha vida de formação cristã evangélica sempre foi ligada, desde criança, à
leitura ou estudo da Bíblia. Todavia, a partir de um certo momento, algumas
histórias bíblicas tornaram-se bastante incômodas para a minha mente acostumada
a ouvir “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura
para sempre”, então eu passei a questioná-las. Dentre as histórias mais controversas
encontra-se a do quase sacrifício de Isaque pelo próprio pai, o patriarca
Abraão.
É
muito difícil aceitar com naturalidade que o Deus transcendental, que criou
todas as coisas, descesse a esse nível tão humano, mas humano dos tempos em que
a barbárie era a regra, a ponto de pedir o sacrifício, isto é, o assassinato de
um ser humano.
Se
você tem alguma noção da grandeza do Universo, com seu número incomensurável de
estrelas, planetas, galáxias e outros elementos extraordinários ou fenomenais
que o compõem, como buracos negros, pulsares, estrelas de nêutrons, supernovas
etc. talvez você chegue à mesma conclusão.
Para
se ter uma ideia da grandeza do Universo, segundo os cientistas o diâmetro do
Universo observável tem cerca de 93 bilhões de anos-luz. O ano-luz é a
distância que a luz percorre em um ano, isto é, 9,5 trilhões de quilômetros.
Isso quer dizer que se fosse possível você se deslocar pelo Universo observável
à velocidade da luz você faria uma viagem que duraria cerca de 93 bilhões de
anos. Multiplique 93.000.000.000 x 9.500.000.000.000 é você terá uma ideia da
distância em quilômetros a ser percorrida em sua viagem, para nós terráqueos,
impossível.
Segundo
o relato bíblico, Deus resolveu testar a fé de Abraão. E assim pediu que o
velho patriarca assassinasse seu filho Isaque, oferecendo-o em sacrifício ao
próprio Deus.
Como
Abraão assassinaria seu filho a pedido do próprio Deus? Cortando-lhe a garganta
com uma faca afiada e deixando-o sangrar até à morte? Talvez. Cravando-lhe um
punhal em seu coração? Talvez. E depois queimando seu corpo inerte sobre uma
fogueira? Certamente, pois a lenha lá estava. E foi levada com essa intenção.
Na caminhada até o monte, sem saber que seria assassinado e depois queimado em
holocausto, o inocente Isaque pergunta: “Meu pai, eis o fogo e a lenha, mas
onde está o cordeiro para o holocausto?”
O
objetivo era testar se Abraão realmente o temia e se sua fé era suficientemente
grande para fazê-lo executar qualquer coisa em obediência a Deus, ainda que um
ato tão bárbaro e chocante como o que lhe fora solicitado.
Por
mais perturbador que possa parecer, Abraão aceitou, pacificamente, e sem nenhum
questionamento, executar o próprio filho. Abraão foi até o final do experimento
e só não concretizou seu intento porque foi interrompido no último instante.
Não há nenhum absurdo em se afirmar que, moralmente, Abraão matou seu filho
Isaque.
Vendo
recentemente um documentário sobre a Bíblia que tratava, dentre outros
assuntos, sobre aquele episódio, eu fiquei a meditar: “O que eu faria se
estivesse no lugar de Abraão?”
Bom,
eu cheguei à seguinte conclusão: se Deus me pedisse para sacrificar meu próprio
filho – na realidade, qualquer outra pessoa –, eu tentaria argumentar até às
últimas consequências contrariamente, como o próprio Abraão fez previamente no
episódio da destruição de Sodoma e Gomorra. Todavia, se o Senhor insistisse em
testar a minha fé dessa forma tão brutal, a minha resposta definitiva seria
“não”, mesmo que isso implicasse qualquer prejuízo pessoal.
E
você, o que faria? Obedeceria a Deus e assassinaria seu próprio filho?
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