terça-feira, 1 de outubro de 2019

E você, o que faria? Obedeceria a Deus ou não?

Por Saulo Alves de Oliveira

A minha vida de formação cristã evangélica sempre foi ligada, desde criança, à leitura ou estudo da Bíblia. Todavia, a partir de um certo momento, algumas histórias bíblicas tornaram-se bastante incômodas para a minha mente acostumada a ouvir “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre”, então eu passei a questioná-las. Dentre as histórias mais controversas encontra-se a do quase sacrifício de Isaque pelo próprio pai, o patriarca Abraão.

É muito difícil aceitar com naturalidade que o Deus transcendental, que criou todas as coisas, descesse a esse nível tão humano, mas humano dos tempos em que a barbárie era a regra, a ponto de pedir o sacrifício, isto é, o assassinato de um ser humano.

Se você tem alguma noção da grandeza do Universo, com seu número incomensurável de estrelas, planetas, galáxias e outros elementos extraordinários ou fenomenais que o compõem, como buracos negros, pulsares, estrelas de nêutrons, supernovas etc. talvez você chegue à mesma conclusão.

Para se ter uma ideia da grandeza do Universo, segundo os cientistas o diâmetro do Universo observável tem cerca de 93 bilhões de anos-luz. O ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano, isto é, 9,5 trilhões de quilômetros. Isso quer dizer que se fosse possível você se deslocar pelo Universo observável à velocidade da luz você faria uma viagem que duraria cerca de 93 bilhões de anos. Multiplique 93.000.000.000 x 9.500.000.000.000 é você terá uma ideia da distância em quilômetros a ser percorrida em sua viagem, para nós terráqueos, impossível.     

Segundo o relato bíblico, Deus resolveu testar a fé de Abraão. E assim pediu que o velho patriarca assassinasse seu filho Isaque, oferecendo-o em sacrifício ao próprio Deus.

Como Abraão assassinaria seu filho a pedido do próprio Deus? Cortando-lhe a garganta com uma faca afiada e deixando-o sangrar até à morte? Talvez. Cravando-lhe um punhal em seu coração? Talvez. E depois queimando seu corpo inerte sobre uma fogueira? Certamente, pois a lenha lá estava. E foi levada com essa intenção. Na caminhada até o monte, sem saber que seria assassinado e depois queimado em holocausto, o inocente Isaque pergunta: “Meu pai, eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?”  

O objetivo era testar se Abraão realmente o temia e se sua fé era suficientemente grande para fazê-lo executar qualquer coisa em obediência a Deus, ainda que um ato tão bárbaro e chocante como o que lhe fora solicitado.

Por mais perturbador que possa parecer, Abraão aceitou, pacificamente, e sem nenhum questionamento, executar o próprio filho. Abraão foi até o final do experimento e só não concretizou seu intento porque foi interrompido no último instante. Não há nenhum absurdo em se afirmar que, moralmente, Abraão matou seu filho Isaque.

Vendo recentemente um documentário sobre a Bíblia que tratava, dentre outros assuntos, sobre aquele episódio, eu fiquei a meditar: “O que eu faria se estivesse no lugar de Abraão?”

Bom, eu cheguei à seguinte conclusão: se Deus me pedisse para sacrificar meu próprio filho – na realidade, qualquer outra pessoa –, eu tentaria argumentar até às últimas consequências contrariamente, como o próprio Abraão fez previamente no episódio da destruição de Sodoma e Gomorra. Todavia, se o Senhor insistisse em testar a minha fé dessa forma tão brutal, a minha resposta definitiva seria “não”, mesmo que isso implicasse qualquer prejuízo pessoal.

E você, o que faria? Obedeceria a Deus e assassinaria seu próprio filho?

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