Um dia, talvez daqui a 500 ou 1.000
anos, quando a humanidade tiver atingido a plenitude da consciência moral e
entender que os animais têm direito à vida tanto quanto nós humanos, matar um
animal será considerado um crime similar ao assassinato de qualquer ser humano.
Ou, quem sabe, bem antes disso, quando a ciência tiver nos livrado da
dependência da proteína animal, os nossos descendentes olhem para o passado e
exclamem com indignação: “Como nossos ancestrais [inclusive nós, em pleno
século 21] eram bárbaros!”
Não é
uma piada. Há quem julga que matar um animal é o mesmo que “matar” uma alface.
Quer
comer carne, tudo bem. Não é crime assassinar um animal! Ainda! Eu também como,
pouco, mas como.
Agora esse quadro é uma agressão à inteligência. Eu queria usar uma expressão mais forte, mas acho que, ainda que certas ideias sejam totalmente inconsistentes, devemos sempre respeitar os seus autores. Pode-se viver comendo pedras? Alface sente dor? Alface tem pavor? Já viram jorrar sangue de uma alface? Já viram o desespero de uma alface ou de uma beterraba no exato momento do assassinato? Alguém já viu uma cenoura debatendo-se no chão, esvaindo-se em sangue, com o pescoço degolado?
Ah, comer carne é uma Lei da Natureza. Não há como mudar. E há coisas
muito mais importantes do que se preocupar com milhões de animais que são
sacrificados todos os dias, diriam alguns.
Na natureza selvagem os animais
velhos ou doentes morrem à míngua ou são devorados por outros animais. Essa é
uma implacável Lei da Natureza. Por ser assim, nós devemos deixar que os nossos
velhos, os deficientes e os doentes morram sem nenhuma atenção?
Felizmente nós humanos já
ultrapassamos há muito tempo a época em que não passávamos de feras nas
florestas e vivíamos apenas segundo suas leis. Hoje, nós temos médicos, hospitais,
clínicas, pesquisas, abrigos e muitos outros recursos para lutar contra certas
leis da natureza. O que é um antibiótico
ou uma cirurgia? O que são as pesquisas com células-tronco?
Há exemplo melhor do que uma cesariana
para provar que muitas vezes nós vencemos as leis da natureza? Quantas mulheres
morreriam hoje, como morreram no passado, se não existisse esse recurso? Nem
sempre vencemos, é claro, mas estamos sempre lutando. Parabéns aos
pesquisadores e médicos que salvam tantas vidas! Ainda há muitas falhas, mas
nós humanos, seres racionais (?) devemos lutar para que a cada dia mais e mais idosos
e pessoas mais fracas ou doentes tenham uma vida melhor, contrariando as Leis
da Natureza.
Portanto, o fato de ser uma Lei
da Natureza não quer dizer que devamos aceitá-la passivamente e deixar de fazer
alguma coisa para mudá-la, já que essa lei específica é a causa de tanto
sofrimento de seres que nada podem fazer para modificá-la. O ser humano
pode.
Há
centenas de milhares de anos nossos ancestrais já comiam carne. Num passado
muito distante nossos ancestrais também eram feras e matavam para sobreviver.
Essa é uma Lei da Natureza que ainda hoje persiste entre os animais irracionais
e também entre nós, animais ditos racionais (?). Será que somos realmente
racionais em toda amplitude do termo? Os irracionais, parece que não se comovem
com o sofrimento de suas presas, e nós, autodenominados racionais, nos
comovemos? Será que não somos tão irracionais quanto eles?
Sei
que comer carne é uma questão cultural, que vem dos primórdios da humanidade,
portanto é muito, muito difícil mudar. Porém isso não quer dizer que devamos
ser insensíveis ao sofrimento de milhões de seres vivos que, como nós, sofrem, sentem
dor e têm tristeza pela separação dos seus parentes.
Para
finalizar, eu gostaria de perguntar: dos quatro grupos de elementos abaixo,
qual deles nós temos certeza absoluta de que sofre, sente dor, sente pavor e, como
nós humanos, derrama sangue quando é cortado?
a)
pedras
b)
micro-organismos
c)
verduras, alface, vegetais (*)
d)
animais.
(*)
nós ainda não sabemos se as plantas sentem dor ou não, pode ser que um dia descubramos
Saulo Alves de Oliveira
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