domingo, 4 de setembro de 2011

Por que não acredito em Astrologia - Parte 1


Imagem do planeta Júpiter obtida pelo Telescópio Espacial Hubble, da NASA, em 13 de Fevereiro de 1995. Júpiter fica a cerca de 630 milhões de quilômetros da Terra.


Recentemente eu fiz um comentário em um blog criticando um texto que tinha algo a ver com o espiritismo. Seu autor distorceu o pensamento de um cientista morto há quase 15 anos e colocou o nome do cientista como co-autor desse texto totalmente contrário ao que ele defendia quando em vida. Simplesmente um absurdo! O moderador do blog, por sua vez, respondeu às minhas objeções criticando-me e perguntando ao final: “Porém, para que não consideremos seu caso como perdido, o senhor poderia nos fornecer sua data completa de nascimento? Dia, mês, ano, horário e local? Gostaria muito de analisar o seu mapa astral”. Eu respondi simplesmente que não tinha interesse.

Posteriormente, em resposta a um outro comentário que eu fiz, ele perguntou: “Você realmente não quer reconsiderar a proposta de me fornecer sua data de nascimento? A ciência (sic) da Astrologia iria agradecer muito!!!” Então eu percebi que se tratava de um astrólogo e, provavelmente, médium, pois ele afirmou que o cientista – ressalto, morto há 15 anos! – “é autor mediúnico do texto”. Para mim não passa de uma fraude, digna de interpelação judicial.

Por esse motivo eu resolvi dizer o porquê não acredito na “ciência” da Astrologia. Para tanto vou me valer do livro Superciência, de Michael White, reproduzindo, de forma reduzida, o capítulo “Somos feitos de estrelas”.
“De acordo com algumas estatísticas, 99% das pessoas sabe o seu signo, e calcula-se que 50% da população consulte regularmente os horóscopos. Num mundo em permanente mudança, onde muitos são os que sentem não passar de um simples número, os horóscopos oferecem um toque pessoal, algo em que podem mergulhar e sentir-se confortáveis.

[Como o livro foi escrito há alguns anos, pode ser que os dados estatísticos acima sejam diferentes hoje](*)

Assim, dadas as razões reais e humanas para a permanente popularidade da astrologia, qual é a base do tema? E haverá alguma razão para que os entusiastas afirmem categoricamente tratar-se de uma “ciência”?

Alguns astrólogos acreditam que as estrelas influenciam a nossa saúde. Esta ideia foi popularizada pelo alquimista, astrólogo e místico Paracelso, que acreditava existir uma ligação íntima entre os elementos (as quatro substâncias [terra, água, ar e fogo](*) de que é feita toda a matéria, de acordo com Aristóteles) e as estrelas do céu. Ele ligou o comportamento dos elementos, os movimentos das estrelas e o bem-estar dos seus pacientes num triunvirato que levou a uma alquimia astrológica que alguns astrólogos modernos continuam hoje a validar.

Outros ignoram por completo os avanços do século passado e dão muito maior significado à influência das estrelas do que a fatores como o desenvolvimento psicológico, a genética e o ambiente.

O astrólogo acredita que os planetas do nosso sistema solar e as próprias estrelas desempenham um papel fundamental na forma como nos desenvolvemos como indivíduos e naquilo que acontece nas nossas vidas quotidianas; que os objetos celestes podem controlar o nosso destino e o mundo em geral. Para o astrólogo, os acontecimentos mundiais não são governados pela teoria do caos, uma sucessão de acontecimentos aleatórios em que nós, humanos, tentamos imprimir os nossos desejos individuais com graus de sucesso variados, mas que são em vez disso predeterminados, postos em movimento e mantidos em equilíbrio por alguma força intangível exercida pelo planeta e pelas estrelas.

Desde há muito que a ideia mais propagada é que alguma forma de força gravitacional intervém e é responsável pelas reivindicações da astrologia, que de alguma forma a força gravitacional entre planetas distantes e nós próprios provoca um elo misterioso, de modo que todos nós somos sujeitos a esse mecanismo. Por outras palavras, à medida que as estrelas e os planetas se movem  nas suas trajetórias, existe um fluxo ou força, ou um “sistema de energias” que faz de nós aquilo que somos e dita aquilo que fazemos. Isto leva então às ações do indivíduo e ao futuro da nação. 

A maior falha desta idéia é o fato de a força da gravidade ser extremamente fraca. Foi calculado que a força gravitacional entre um bebê no momento do nascimento e a parteira na sala de parto seria um milhão de vezes maior do que a influência gravitacional de qualquer planeta do nosso sistema solar e uma influência astronomicamente maior (literalmente) do que as estrelas distantes.

Para vermos a razão disso, só precisamos de ponderar por breves instantes as descobertas de Newton sobre a gravidade, feitas há mais de trezentos anos. O problema é que, para além da força gravitacional ser fraca, ela depende da distância entre dois pedaços de matéria e o seu poder diminui em função do afastamento dos objetos.

[A força gravitacional entre dois corpos é inversamente proporcional ao quadrado da distância entre esses dois corpos. Portanto, se um corpo A está afastado “x” e “2x” de dois corpos de mesma massa B e C, respectivamente, a força gravitacional entre A e B será quatro vezes maior do que a força entre A e C. Se a distância entre o corpo A e um outro corpo D – de massa igual à de B ou C – for “4x”, a força gravitacional entre A e B será 16 vezes maior do que a força entre A e D. E assim por diante.](*)

Tudo no Universo se apoia nesta lei do quadrado inverso. É por isso que a parteira (um objeto relativamente pequeno, mas muito, muito próximo do recém-nascido) exerce realmente uma influência gravitacional muito maior sobre a criança do que um planeta a centenas de milhões de quilômetros de distância.

[Acho que seria uma boa ideia alguém criar uma nova “ciência” chamada “parteiralogia” – ou seria melhor “obstetralogia?” Entretanto penso que o inventor  seria responsável por uma terrível onda discriminatória. Quais pais admitirão na sala de partos, em que pese a grande competência profissional, parteiras ou médicos com traços negativos em suas personalidades, tais como: arrogância, prepotência ou mesmo timidez? Desculpem a brincadeira, é apenas para descontrair, pois o texto ficou bem maior do que eu gostaria.](*)

(...) O magnetismo é uma outra possível arma do arsenal do entusiasta usado muitas vezes num esforço para definir a força que alegadamente permite a influência planetária. Mas, mais uma vez o magnetismo é uma força incrivelmente que só opera em distâncias curtas – tentem vocês mesmos com um compasso e um pequeno ímã.    
     
Em resposta a isto, os entusiastas realçam o fato de se saber que as aves migratórias conseguem navegar usando as linhas da força magnética em volta da terra; então, argumentam eles, como é que o magnetismo poderia deixar de estar na origem da influência planetária em astrologia? A resposta é similar à usada para contrariar a apropriação pelo astrólogo da lei da gravitação de Newton. As aves migratórias não fazem jornadas interplanetárias! As linhas de força que empregam de forma misteriosa e fascinante são poderosas linhas magnéticas de influência, produzidas pelo enorme núcleo de ferro do nosso planeta. Além disso, se os astrólogos querem realmente insistir em que existe uma espécie de efeito magnético, então essa influência seria dominada sobretudo pelo campo magnético da própria terra. Em determinado sentido, isto é análogo à comparação entre a influência da parteira e dos planetas, o impacto do campo magnético da Terra seria muito maior do que qualquer força magnética intangível que de alguma forma nos tivesse atingido vinda de outros planetas do sistema solar.    
(*) As citações entre colchetes [ ] não são de responsabilidade do autor do livro

Saulo Alves de Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário